Palavras e ideias: a comunicação e seus desafios

Não são só palavras, comunicar demanda que todas as partes envolvidas tenham conhecimentos complexos e disposição para a troca. Mas essa troca é facilitada ou dificultada hoje em dia?

Definir comunicação não é das tarefas mais fáceis. Não porque o conceito seja “hermético”, mas justamente pelo contrário. A comunicação é algo que está no nosso cotidiano de modo tão intenso e é tão importante que acabamos por perder um pouco a percepção de sua presença e importância para a sociedade como um todo.

O papel da comunicação no cotidiano

“Qual o preço do quilo de feijão?”, “Foi lançada uma nova vacina na Europa”, “Descobriram sinais de vida em Marte”, “A avenida central foi fechada por conta de uma obra de saneamento”. Essas afirmações, quando parecem soltas num texto, fazem pouco sentido. Mas quando colocadas num contexto, essas informações começam a fazer parte de um todo mais significativo para a pessoa que tem contato com ela.

É o desafio da comunicação: conseguir de informações possam ser reunidas e que façam sentido, fomentem discussões e novas ideias. Tal interação entre informações e sua difusão entre as pessoas é capital para a organização da sociedade, possibilitando ações tão diversas quanto um relacionamento amoroso, o registro da memória de um grupo ou o desenvolvimento de novas tecnologias.

Comunicando no Brasil

A comunicação está para além das tecnologias que permitem a amplificação das vozes, como televisão, rádio, jornais e a internet. Comunicar é mesmo a ação de trazer informações a apresentá-las. Poderíamos vincular isso com a imprensa, que no Brasil só vai surgir com a vinda da família real portuguesa em 1808, mas ignoraríamos toda a troca de informações que, mesmo sob censura e controle estrito da coroa portuguesa, ocorria no Brasil. Ou mesmo todas as necessidades e possibilidades de comunicação que se fazem perceber pelos indivíduos nas suas relações cotidianas. Apesar disso, enquanto “ciência” (ou campo de estudo metodológico), a comunicação é muito recente, tendo menos de 60 anos.

Palavras à velocidade da luz

Comunicar e informar são tarefas difíceis. Em parte porque muitas vezes tais ações confundem-se com “dar opinião” e esse costuma ser um campo mais espinhoso, visto que as opiniões também vinculam-se com os afetos (o concordar ou discordar de forma apaixonada). A comunicação é um exercício que gestores e empreendedores precisam cumprir de modo a não cair nos riscos de conflitos desnecessários por conta de ruídos e palavras “mal-colocadas”.

Tal desafio se dá por conta da multiplicação de meios de difusão e registro. No começo do século passado era necessário lidar com o que era escrito num certo número de jornais (algo restrito, especialmente devido ao analfabetismo), com fotografias (cuja captura demandava certa estrutura e preparo) e também com o testemunho das falas de alguém (que acabava dependendo da memória e da confiança dos interlocutores).

Já na atualidade adicionam-se os meios de registro e difusão instantâneos e disseminados: celulares que têm capacidade de captar sons e imagens semelhantes às câmeras de televisão, redes que possibilitam envio e o compartilhamento de imagens em tempo real, armazenamento de dados em volume tal que registros sonoros podem ser facilmente resgatados, editados e divulgados numa velocidade estonteante.

O desafio de informar e opinar

Num momento, uma informação que foi transmitida verbalmente pode estar disponível do outro lado do mundo. Mas essa informação depende também da “leitura” de quem recebe a informação. A capacidade de compreender os dados apresentados, fazer conexões com outras informações e conhecimentos prévios, compreender o processo que gerou a informação (ou a opinião) apresentada é o desafio para quem lida cotidianamente com a comunicação, seja no âmbito particular, seja no público.

A comunicação é fundamental, mas ela precisa ser feita com atenção para que não se passe informações truncadas, o que abre espaço para fenômenos como das fake news. Comunicar é algo cotidiano, mas está longe de ser algo ordinário.

Givaldo Corcinio – historiador – ABC Digital

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